quinta-feira, 20 de maio de 2010

Anatonomia

Perfumou-me a nuca, tacteou-me a clavícula, resvalou a mão até entre os seios, numerou-me cada costela, estreitou-me a cintura, esboçou-me o umbigo, osculou-me o ílio, dedo ante dedo abalroou-me a rótula direita, cativou-me o tornozelo. Libertou-me a coluna, sem voz. O fôlego dissipou-se. Todos os segundos trancaram-se nos ossos. Encobri os olhos e os lábios. Senti-lhe os braços e o rosto sereno no meu ombro. Murmurou. Consenti que o esqueleto seguisse o encalço das suas mãos. Pisei tez de leite. Contei-lhe as vértebras até ao cóccix. Arranhei-lhe o fémur.

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