domingo, 9 de outubro de 2011
225
Sim fui afortunada, em tempos, tal era a castidade. Não assimilava que a mãe sempre foi doente e que Tu chegavas tão tarde para lhe garantires os vícios. Lembro-me de em tempos não jantar conTigo, de não Te desejar boa noite ou de não Te ter aos fins-de-semana. Tu não fugias não. Achava eu que tudo era perfeito enquanto Tu te matavas por nós. A Avó era tabu e as caçadas aos caracóis foram banidas. Sorria sem saber quem Tu eras. Só nos últimos seis anos é que descortinei todo o ser humano incrível que se afogava em trabalho para nada nos escassear. Mesmo quando me trilhavas os sonhos com uma sova de realidade eu venerava-te. Vivia vaidosa de tanto esplendor. De tudo tagarelavamos. Eras um braço direito e duas pernas. Não te ver chegar, não te perguntar o que almoçaste… Esta foi a maior punhalada que alguém me poderia abonar. É dor. Dói que mói. Naquela primeira noite de 2007 chorei de um pavor futuro. Oito meses morreram e Tu foste diagnosticado. Tudo parecia solucionável até Março de 2011. E eu nem passei o meu aniversário ao teu lado. Quem me dera ter recebido toda essa pujança. Lembro-me do cheiro, da luz, do som e até da tua árvore. Aquele choupo que se via da tua janela.
Nau
A traineira chegou. Meses depois de uma partida antecipada ela aportou. Pobre casco o dela que já nem a deixa vaguear. Não viu sereias e Neptuno matou-lhe o capitão. O leme ardeu tamanha era a míngua. Daquele porto já não mais sairá. Será um pedaço de carne moribunda na borda de um mar tão negro quanto o céu.
Calcula
Não quero, não posso. Sonho com piolhos e alergias cutâneas. A idade envelheceu. Perdi a conta. Não quero contar, não posso.
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