terça-feira, 22 de julho de 2014
Louça
No oxigénio da violência cansei-me de ser a boneca de porcelana. Sou a urgência de chegar e a determinação para despedaçar o hábito. Uma fezada de touradas compensatórias em admirares alheios. Nasci sem termos. Quero o imediato ainda que insanamente os meus pés estão no solo. Vulcão de lava apressada.
Putrefacção
Como se neste preciso instante não estivesse aqui nem sequer tencionasse estar. Desadaptada num corpo que é da terra. De repente a paz no meio da algazarra que me acobarda ou simplesmente azeda. E já sinto o pôr-do-sol a açoitar-me o rosto. Não sei se é pavor ou se todos me estorvam. Bocas conspurcadas que me molestam. Como sentir-te no meio de mim? Como celebrar uma imitada autonomia? Não sei descrever como se sente a desagregação de um mundo que nunca foi o meu.
(Res)pira
O batimento errado, suado e pingado pelo amor que não é meu. Suspensão de uma respiração quase neutra aos teus olhos. Nos meus nem te retratas, como se um nada pudesses ser. Carne pútrida imunda de mim mesma que gera inspiração. Frincha de fotossíntese completa repleta de luz mãe quente minha. De mão dada com a metamorfose e de maçãs ao vento. Leva-me o ruivo pela costa ao som dos teus pés no chão.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
The F word
Sem medo ou embraço sou o teu abraço sem cansaço. Nem mais nem menos do que aquela caneta que me proclama Julieta. Eu livre que não me subjugo a amarras nem com as tuas juras agarras. Aquele beijo de entrada e de saída que me quer despida. Fraco palato de ousadia mesmo que secretamente vadia. Quero-te como nos contos americanos sem os meus enganos. Sonho contigo no meu pescoço e já só tenciono almejar o alvoroço. Constelações nos meus lábios de fragilidade desimpedem-te a porta da eternidade. Sei me queres tua iluminada pelos ossos da minha pele que flutua. Braços de um herói pecaminoso que presenteia o meu peito anguloso. Rio de banhos de água serena que nos sequestra da casa terrena. Entrega dos limites sem rematar o que permites. Nomeio-te rei e senhor da vida que não acabará comedida. Partilho a ambição e a busca pela absolvição da imperfeição. Luz dos olhos da alma que ainda que fazem correr na tua palma. Seguro com os dentes todas tuas as palavras dementes. Cegava-me cantares com uma guitarra no colo mas os teus pincéis são o meu solo. Não te mudava um centímetro nem por um impetro.
terça-feira, 1 de julho de 2014
Sol
Não tens rosto, nem nome, nem género, nem prosa. Saqueias-me a noite. Invades-me o colchão sem seres defrontado. Inspiro e suspiro oxigénio gasto, cansado. Nós, a cama, a janela de fim de tarde, as cortinas esvoaçantes e as cordas. Fala-me das cartas secretas, lê-me. Letra a letra desmascara o m(t)eu (des)conforto. Sou uma mulher de hoje e de ontem sem cobiçar ser o amanhã. Sinto-me um quase sem mutações, sem vanglórias, sem sofrimento, sem artifícios. Não desejo o que não é meu e se te rapinei alguma coisa do tórax foi inofensivo. Sempre fui péssima com matemática. Sei que podias admirar-me toda a noite como se fosse a primeira. Sermos dementes não ajuda. Não tenho uma razão para te fazer renunciar. Sabes que o cagaço é nosso e que os amanheceres também podiam ser teus.
Balloon
Tenho vontade de te contar todos os desatinos da minha cabeça. O cigarro está tranquilo no teu cinzeiro. Sorris como se a família fosse numerosa e íntegra. Gostava que envergasses vinte e quatro horas de terra. Quero que contemples as andorinhas. Altera as fórmulas, põe travões.
terça-feira, 17 de junho de 2014
AnotheRoom
As nossas rimas só ecoam sob distância. São águas impetuosas de anseio. Como é profícuo sentir-te vulgar, meu desgraçado! Macho instinto que no meu corpo é manjar. Fatal, carnal, extracorporal. Se queres mesmo saber não sei porque te tenho em mim. És só um quarto.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Gancho
Idealizas, atropelam-te. Tombas, aprumas-te. Começas tudo de novo sem baptizar outro merdas como capitão das tuas aspirações.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Desventura
Tu pássaro enclausurado desafinado que insiste em rotular o Amor. Desprezaste peitos surdos onde habitam corações. A madeira é a mesma mas os colos são outros. Tu cobra sem horizonte, Inverno sem fim, chuva de Janeiro. Amor é Verão, quente coração. Galgas tu o mar, dia sim. Pedinchas e não chega. As mariposas não correm. Dissimulado que frui o que não possui. Amarga, chora. Enrosca-te nessa cama sem satisfação. Implora Amor e Amor deterás. Promessa de vida para os teus olhos embriagados de melodias mudas. Alma tua que lacrimeja não vale dor. Absolvido nunca serás se a tua pele perdurar ateada. Luz obscura que cata túneis companheiros de sofá-cama. Mulheres feitas para o amor de letras, amor de suor. Tu pássaro de chão, para quê tanto céu? Pode ser que nunca brotem girassóis no teu quarto. Se pretenderes ver as flores que nascem na penumbra não o profiras. Tu delito que compõe as trevas sem remissão, se o galo cantar esse teu Amor raiará. Se o jardim florir conivente com o sol é Amor.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Run!
Corre! Corre como se não me decifrasses, como se eu não te enxergasse. Corre, come! Come as mãos ardorosas e a língua conspurcada. Corre, come, rompe! Rompe a nau e desbrava o cosmos! Corre, come, rompe, espelha! Espelha os berros de um coração oco e despe-te. Corre, come, rompe, espelha, arde! Arde as asas. Corre, come, rompe, espelha, arde, morre!
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