sexta-feira, 16 de abril de 2010
Direito de porta / Esquerdo de cama
Não estou certa se é apenas camomila ou oxigénio. A certeza faz-se em matos devolutos. É de outra vida. Os pensamentos são reclusos e ocos. As palavras alterariam tudo. A chave fazer-me-ia abandonar cada porção de seda. Esta agonia cobre-me o estômago de esmalte negro. Está todas as madrugadas no lado esquerdo da cama. Está todas as noites no segundo degrau das escadas para o quinto andar. É alucinação aquela beleza extrema. Será mais sublime que tu. O encanto está-lhe nas mãos de dedos finos compridos quadrados e no loiro límpido que tanto me subjuga. Talvez seja o meu reflexo. Não aprendi a ler. Nada tem em comum com velhos ídolos. Ataranta-me o cérebro e abate-me o tórax.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Abril águas mil
Nunca fui para além da esquina do meu grandioso ego. Hoje é dia de descer do pedestal que me suporta e caminhar em direcção ao oceano. As lágrimas não encenadas são limonada sem adição de açúcar.
Queimam-me os lábios e despertam o cieiro. São gotas de puro egoísmo. O altruísmo é abecedário.
Queimam-me os lábios e despertam o cieiro. São gotas de puro egoísmo. O altruísmo é abecedário.
domingo, 11 de abril de 2010
Latitude / Longitude
O véu repousa entre folhas soltas e relva por aparar. Todo o negro é belo e magnetiza desejos descabidos. O céu é púrpura. O céu é meu. O céu é alto, é ser, é véu. Não carrego tectos. Nem um pé direito de dez milhares de metros me pisaria os fios de cabelo. O céu quer-se amplo, desnudo, austero. O véu ansiava continuar a extorquir sonhos meus. O véu insistia em colocar portadas de madeira nas janelas. O véu nunca foi de virgem. Desenraizei-o da minha testa. O vento acarretou-o e não mais consentiu que tamanha selvajaria se repetisse.
Pétalas
E se tu, minha pequena flor de jardim, precisares de mim debruça-te na janela. Não é sorvedouro nem nunca o será porque eu sou ponte, estrada de terra batida e pinheiro manso centenário.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Almofada
Esta manhã não clareou. O cuco fugiu do meu relógio de bolso. A maquilhagem da noite anterior já não cobre as marcas dos teus dedos. O perfume de Jasmim já não camufla o cheiro da sujidade dos meus poros. Pé ante pé cheguei à sala em jeito de menina e vasculhei os armários. Achei o velho colar de diamantes. Decidi colocá-lo e sentar-me em frente ao toucador. Escovei o cabelo negro desconcertado. As lágrimas que me lavavam o rosto desaguaram no Nilo e dei comigo a almejar mil oásis da Babilónia. Não estavas ao meu lado. Era ele. Ele que não vive ou que simplesmente ainda está no Mediterrâneo atrasado. Os minutos dele são anos meus de desespero. Eu não aguentarei outra viagem na tua nau pelos oceanos. Prefiro morrer de ânsia.
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