domingo, 30 de maio de 2010

Princesinha

Voltei a viajar até à Lua. Trouxe uma Papoila vermelha e lágrimas secas. O Mundo é tão meu que ninguém o decifra. O Quarto não tem janelas mas avista-se a Terra. O Quarto fala-me do inaceitável. Hoje repouso aí. Aninhada no teu peito.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Azul

Viajo pela orla sem relógio no pulso. O sol é quente. Descongela-me cada poro desidratado e consome-me as entranhas putrefactas. Perco oito quilos e seiscentos gramas. Os pés germinaram para, nus, prosseguirem. Trilho sem destino. Trilho com gosto de vento. Trilho escoltado por tudo que nunca quis ter. Trilho de impossibilidades atingíveis. Asfixio e tropeço em palavras presas no tórax. O trilho é duradouro. Em três passos perder-te-ei de vista. O farol ardeu. A minha cabeceira é nordeste. A tua é norte. A tua voz… Os teus murmúrios… Fechá-los-ei num búzio branco que carregarei ao peito. Juro-te que os meus olhos serão impenetráveis.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pés

A madrugada é minha. A manhã é de quem a apanhar.

Tarantula

Já bailaste com o Diabo sob o luar?

Anatonomia

Perfumou-me a nuca, tacteou-me a clavícula, resvalou a mão até entre os seios, numerou-me cada costela, estreitou-me a cintura, esboçou-me o umbigo, osculou-me o ílio, dedo ante dedo abalroou-me a rótula direita, cativou-me o tornozelo. Libertou-me a coluna, sem voz. O fôlego dissipou-se. Todos os segundos trancaram-se nos ossos. Encobri os olhos e os lábios. Senti-lhe os braços e o rosto sereno no meu ombro. Murmurou. Consenti que o esqueleto seguisse o encalço das suas mãos. Pisei tez de leite. Contei-lhe as vértebras até ao cóccix. Arranhei-lhe o fémur.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Covil

Desabotoa a janela. Quero um peitoril para pernoitar.

Cordeiro

A correia de couro da espingarda apoia-se no meu ombro. As munições andam nos bolsos repletos de horas. Trovões cobriram o ruído de um só arremesso. Abati uma lebre que afinal é um coelho.

Cavalo

A minha frivolidade está no facto de almejar rosas em vasos e papoilas em jardins silvestres.

Cogumelo Shitake

É verdade que vejo outro universo em cada letra que rabiscas mas não é apetite, é magnetismo.

Do outro lado

A seringa que ontem me usurpou a veia do braço esquerdo sugou-te e repartiu-te. Enclausurou-te. Não mais deambulas no lado errado. Gozo uma ténue mancha negra.

Telefone

E assim ela desceu do pedestal. Foi acção de uma náusea cultivada. Nós sabemos que ela não é mais rainha de terra alguma. Toda a instabilidade dar-lhe-á o passaporte para o tormento. Lá conseguirá ver o seu rosto, sem dissimulações, retratado. Provavelmente já nem lhe restará face: tantas são as suas artimanhas. Os seus tentáculos nunca foram serpentes. Não ousaria em usar o seu veneno. Isso apenas a aniquilaria a ela. Agora, no quarto do fundo do corredor, roga pragas a todos aqueles que não a vêem com bons olhos. Não é sentença não, é desarmonia de mentalidades. O carácter é fruto de crenças e nunca será caprichoso. Aquilo que a aguenta viva não é carácter, é horror da trivialidade. Facto estranho é isso a avizinhar do ordinário. Ela opta por ser banal em vez de encarar o seu pavor pela vulgaridade.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Boa noite

Vou descansar o esqueleto que já muito pesa.

Nada mais, nada menos

És intacta e fértil nascente de inspiração
És deleite espiritual
És cocaína.

Crua

Tudo isto será eternamente um conto de fadas de vocábulos.

Insónias

Passei a noite em branco. Corri os lençóis. O meu estômago escaldava e todo o meu aparelho respiratório estava prestes a morrer. Já não mais suportaria aquele sufoco.

Esta manhã contei-lhe. Ele já o pressagiava. Nada me cobrou. Estava ciente que acabaria por tornar-se verídico. Sabe que me agitas mas que nunca serei arrebatada o suficiente para achar que isso construirá um lar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Punhal

Venderia a alma ao Diabo para não ter que passar por tremendo desatino. Deambulo sobre terras obscuras de mãos abastadas de constelações. Sinto-me errante. É devaneio sim! A noite passada foi testemunha: matou-me, matei-te, matei-o, morri.

Je m'appelle Sara, et toi?

Tal não posso proferir porque daria conta que ele não é lar mas tu serias. Não posso proferir o que degolaria três seres espantosos. Não posso proferir o que me privaria da tua presença sem embaraços. Não posso proferir o que me faria fugir e não mais escrever-te.

"Hope is the worst of evils, for it prolongs the torments of man."

domingo, 16 de maio de 2010

Milho

Disfarçamo-nos de palavras.

Watermelon

Acho que tu sabes o óbvio mas estás certo que não te decepcionarei. Podes ainda não ter associado todas as peças mas o teu pavor é precisamente juntá-las. Completar o puzzle matar-te-ia e levar-te-ia a abandonar-me por achares que seria a melhor opção. Se ela soube sem eu nada lhe ter dito tu também o sabes. Ainda bem que reconheces o tamanho da minha lealdade.

Paralelepípedo

Nunca serei mais que chamas em pulmões destruídos
Nunca serei mais que receio
Nunca serei mais que incógnito
Nunca serei mais que brisa
Nunca serei mais que distância
Nunca serei mais que uma ostra.

When did my heart go missing?

Como dói tornar isto impossível. Dói ainda mais camuflar isto dele que já sente o aroma do que eu ainda não vejo.

Canopy

Perdão por não ambicionar provar mais
Perdão por não deixar que toda esta alienação me consuma o corpo
Perdão por banir os olhos
Perdão por não saber mergulhar.

sábado, 15 de maio de 2010

Tarot

Toda a gente sabe o que ainda não sei. Talvez não o saiba porque não quero ou porque é inadmissível sabê-lo. E tu, como prevês tamanha realidade supostamente inexequível? Sou tua de corpo e de amor. O meu espírito saboreia paixões e parapeitos. Venera intensidade. É Lua. Nada o engaiola.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Muro

Acordei com um desejo indomável de sentir-te o peito, de cheirar-te o rosto e beijar-te a testa com os olhos cerrados. Não alimento esta minha demência mas ela vive. Ela apunhala-me as costas sempre que tento olhar em frente. Não caio, nunca caio. Conheço todas as minhas fronteiras e não tenciono atravessá-las.

Livros abertos

Eu devoro olhares. Conseguir obter todos os sentimentos que um indivíduo suporta seduz-me. Sou amante de olhos. Esta minha cisma nunca me atraiçoou. Há olhos que por mais flores que exibam antevejo toda a gosma oculta. Expressas tanto com um olhar. Apavoras-me porque mexes excessivamente comigo. Garantes-me sensações estupendas mas constrangedoras.

Maçã

Não me alteres mais a respiração!

Eva

Também eu sou composta por amores inaceitáveis. Eles escaldam-me o alento, coram-me as maçãs do rosto e deixam-me com pele de galinha. O facto de serem longínquos espicaçam-me o coração. Nada faço, nada movo, não ambiciono mais que o cobiçável. O meu racional é tão bem maior que o irracional… Todo o delírio aleitado encanta-me. Aí o presente interroga-me sobre o futuro. O amanhã é oscilante. Não me eduquei para planear cada movimento. Possuo um diário gráfico que se limita a amontoar letras sem esboços. Estes meus amores deixam-me acorrentada. São seres deslumbrantes. São seres que em tudo me espelham. Poderíamos ser almas gémeas noutra existência. Ponho a mão no bolso e saco o temor do desejável se apoderar de mim e de me extorquir toda a sensatez. A carne é pó. O espírito é elevado e vagueia. Ascende, descende, peregrina para onde quisermos estar com quem quisermos estar. É segredo âmago meu. São secretos instantes nossos. Não são ilusórios, apenas não são praticáveis.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Cordas

Por segundos olhei-o nos olhos e consegui ler cada pensamento. Consegui sentir tudo aquilo que lhe atormenta a alma.
Ele é um ser fenomenal.